Detecção precoce do autismo é foco de pesquisa de doutoranda da Renasf

Doutoranda da RENASF, mãe de uma criança autista, lidera estudo que capacita profissionais da atenção primária para identificar sinais do TEA ainda na primeira infância

Uma pesquisa promissora está sendo desenvolvida em São Luís (MA) com o objetivo de melhorar a detecção precoce do Transtorno do Espectro Autista (TEA) na atenção primária à saúde. Intitulado “Efetividade de um Programa de Capacitação para Rastreio de Autismo na Atenção Primária à Saúde”, o projeto é conduzido pela doutoranda Joyce Leal, da Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família (RENASF), da nucleadora Universidade Federal do Maranhão (UFMA). A orientação é da Profa. Dra. Rejane Christine Queiroz e a coorientação da Profa. Dra. Deysiane Chagas.

Josué compartilhou um pouco da sua história: diagnosticado com autismo aos 2 anos, não falava na época, mas teve acesso precoce às terapias e hoje é autista nível 1 de suporte.

Além do compromisso acadêmico, a pesquisa nasce de uma motivação pessoal profunda. Médica de Família e Comunidade, Joyce Leal é mãe de Josué, que foi diagnosticado com autismo aos dois anos de idade. “Durante o doutorado na RENASF temos a oportunidade de realizar pesquisa e aprender ferramentas para aprimorar nosso trabalho. Sempre sonhei em contribuir para melhorias na assistência às crianças com autismo, especialmente após o diagnóstico do meu filho. Hoje ele tem nove anos, é autista nível 1 de suporte, e essa pesquisa é também sobre ele. Ela busca garantir que outras crianças tenham acesso precoce ao diagnóstico e às intervenções no período de maior neuroplasticidade, o que é essencial para o desenvolvimento de novas habilidades”, relata Joyce.

A fase de intervenção da pesquisa teve início no dia 14 de maio, com uma atividade formativa presencial destinada a profissionais de nível superior que atuam em nove Unidades Básicas de Saúde de São Luís. O objetivo foi capacitá-los para realizar o rastreio precoce do autismo em crianças de 16 a 30 meses de idade, utilizando o instrumento M-CHAT R/F, validado e reconhecido para triagens iniciais.

A proposta tem como foco ampliar a capacidade dos serviços de atenção primária em reconhecer sinais precoces do TEA, aumentando a probabilidade de identificação precoce e reorganizando os fluxos de cuidado para crianças com atraso no desenvolvimento. A expectativa é de que, com a capacitação adequada, os profissionais possam encaminhar as crianças de forma mais ágil para avaliação diagnóstica e intervenção multiprofissional, garantindo melhores desfechos de saúde e desenvolvimento.

Entre os principais benefícios do projeto estão a qualificação dos profissionais de saúde, a ampliação das chances de intervenção precoce, mesmo para crianças com outros tipos de atraso no desenvolvimento, a reorganização do atendimento às crianças autistas, a melhora na qualidade de vida das famílias e a redução dos custos em saúde pública a longo prazo.



A pesquisa conta com o apoio institucional da RENASF-UFMA e da Superintendência de Ações em Saúde de São Luís, por meio da enfermeira Camila Nogueira, cuja parceria tem sido fundamental para o engajamento dos profissionais e o bom andamento da pesquisa.

Nos próximos meses, os profissionais capacitados (grupo intervenção) e um grupo controle serão acompanhados por quatro meses. O objetivo é comparar a taxa de detecção de TEA nas crianças avaliadas. Aqueles identificados com risco serão encaminhados para acompanhamento com equipe multiprofissional e início imediato da intervenção. Os resultados da pesquisa poderão impactar diretamente a realidade de São Luís e servir de modelo para outras cidades brasileiras, promovendo um cuidado mais inclusivo, eficiente e humano às crianças com autismo e suas famílias.